Após estímulos hormonais, ocorre a liberação do óvulo. O óvulo é
conduzido até a extremidade de uma das tubas uterinas, caso seja fertilizado
pelo espermatozoide, ele será transportado até o útero, onde será implantado.
Quando a fertilização não ocorre, o óvulo se desintegra juntamente com o
endométrio, sendo então eliminado com a menstruação (fig. 1).
Fig.1 – Ovário, e uma
das tubas uterinas (a) com suas franjas do pavilhão, onde está caindo um
ovócito que acaba de ser expelido de um folículo de Graaf. Na figura observa-se
também, corpo lúteo (folículo que já ovulou e passou a produzir progesterona) b; ovócito II (c);
folículo maduro (folículo de Graaf) em “d” e folículos em início de
desenvolvimento (e). (extraído
e modificado de SOARES, 1997).
Quando
o ovócito é fertilizado por um espermatozoide, dá se início ao processo de fecundação.
Após uma série de divisões celulares, o zigoto começa a crescer e transforma-se
em um embrião. Quando mais de um óvulo é liberado e fertilizado, ocorre uma
gestação múltipla, normalmente gemelar. Neste caso, os gêmeos são fraternos. Os
gêmeos idênticos são o resultado da separação de um óvulo já fecundado em duas
células independentes. Na ovulação, a camada de muco do colo do útero (a parte
inferior do útero que se abre para o interior da vagina) torna-se mais líquida,
permitindo que os espermatozoides penetrem no útero mais rapidamente.
As aberrações cromossômicas se originam durante as divisões
meióticas. Normalmente, os dois componentes de um par dos cromossomos homólogos
se separam durante a primeira divisão meiótica, de modo que cada célula filha
receba um componente de cada par. Às vezes, porém, a separação não ocorre
(não-disjunção) e ambos os membros de um par deslocam-se para uma célula. Em
conseqüência da não-disjunção dos cromossomos, uma célula recebe 24 cromossomos
e a outra 22, em vez dos 23 normais. Quando, na fertilização um gameta de 23
cromossomos se funde com um de 24 ou de 22 cromossomos, o resultado será um
indivíduo cem 47 cromossomos (trissomia) ou 45 (monossomia).
Na espécie humana, a fecundação geralmente ocorre no terço superior
(ou terço externo) da tuba uterina (ou trompas ou ovidutos), ou seja, na
extremidade mais próxima ao ovário, junto ao pavilhão. Os espermatozóides, por
sua vez, são lançados na vagina durante o coito, e devem empreender uma longa
caminhada, com sucessivos obstáculos.
Primeiramente, os espermatozóides enfrentam uma grande
dificuldade de sobrevivência, uma vez que são deixados na vagina, onde o pH é
ácido e, como tal, hostil para eles. Muitos deles morrem logo no começo. Mas
muitos, também, conseguem passar ao colo do útero, onde o pH é alcalino. O colo
uterino é recoberto por uma densa secreção mucosa, que dificulta a mobilidade
dos espermatozóides. Muitos deles ficam retidos nesse muco cervical, mas uma
outra grande parte consegue passar para o interior da cavidade uterina (fig.
2).
Fig. 2 – Aparelho
genital feminino.
Os espermatozoides, ainda têm que transpor as inúmeras dobras ou
pregas da mucosa uterina. Muitos morrem pelo caminho, mas muitos outros
conseguem chegar, alcançando as entradas das tubas uterinas. Como são duas
essas entradas, o contingente se divide, indo parte para a tuba direita e parte
para a tuba esquerda.
Já se acreditou que os espermatozoides eram atraídos por uma
substância química eliminada pelo óvulo. Sabe-se hoje, que na espécie humana, e
provavelmente nos demais mamíferos, os gametas masculinos sobem pela vagina,
útero e trompas em função unicamente de sua extraordinária motilidade. Talvez,
em animais inferiores com fecundação externa, na água, ocorra a liberação de
algum tipo de substância química que tenha a função de atrair o espermatozoide
até o óvulo. Essa substância facilitaria o encontro óvulo-espermatozoide, já
que ambos são colocados no ambiente e poderiam se dispersar e não se
encontrarem.
Depois de percorrer todo o caminho até a porção superior da tuba
uterina, se o espermatozóide encontrar o ovócito II, ainda encontrará
dificuldades para penetrar no ovócito. O gameta feminino possui barreiras para
a penetração dos espermatozóides: a corona radiata (mais externa, composta de
células foliculares) e a zona pelúcida (camada glicoprotéica situada após a
corona radiata). Os espermatozóides possuem na cabeça o acrossomo, que liberara enzimas
hidrolíticas (hialuronidase) ao entrar em contato com tais barreiras. A hialuronidase desfaz o ácido hialurônico que promove
a ligação entre as células dacorona radiata. Após vencer todos os
obstáculos, ocorre a fusão entre as membranas citoplasmáticas dos dois gametas
e o núcleo do espermatozóide vai de encontro ao núcleo do óvulo.
Podemos
dizer que a fecundação (ou fertilização) é um processo que se inicia com o
contato entre o espermatozoide e o ovócito II e finda com a fusão do material
genético contido nestes gametas (fusão dos núcleos). Este contato se dá especificamente
entre receptores presentes na zona pelúcida do ovócito e ligantes localizados
na membrana citoplasmática do espermatozode. Esse contato induz a
reaçãoacrossômica, e libera as enzimas do acrossoma (na extremidade do
espermatozoide), que têm a função de perfurar uma passagem para o
espermatozoide através da zona pelúcida até a membrana citoplasmática do
ovócito, criando, o que muitos chamam de “cone de atração” (fig.3).
Fig. 3 – Diagrama da fecundação de um
ovócito secundário: O espermatozóide se liga a zona pelúcida e “digere o seu
caminho através desta, formando o “cone de atração”. Quando o espermatozoide
adere à membrana plasmática do ovócito há a liberação de enzimas (exocitose)
que vão provocar a “reação zonal”.
O
contato entre as membranas citoplasmáticas do espermatozóide e ovócito, induz a
exocitose das enzimas contidas nos grânulos corticais localizados na periferia
do ovócito (fig. 3). Essas enzimas provocam modificações na zona pelúcida,
levando ao seu endurecimento e inativação dos receptores. Estas alterações,
denominadas reação zonal impedem a penetração de outro
espermatozóide (polispermia) no ovócito. O contato das membranas
citoplasmáticas dos gametas induz ainda, a ativação
do ovócito, que retoma da divisão meiótica que havia sido suspensa na
metáfase II (fig. 4).
Fig. 4 – Diagrama da fecundação:
Espermatozóide penetra pela zona pelúcida e adere à membrana do ovócito, que se
rompe, deixando entrar a “cabeça” do espermatozóide.
Com
a fusão das membranas citoplasmáticas, o material contido no espermatozoide é
transferido para o ovócito. Agora, o núcleo do espermatozoide cresce,
transformando-se no pronúcleo
masculino que vai ao encontro
com do pronúcleo feminino (núcleo do óvulo que, a essa
altura, já deixou de ser ovócito, pois realizou a segunda divisão meiótica,
desprendeu o segundo glóbulo polar e se constituiu efetivamente em
óvulo). Os pronúcleos masculino e feminino, ambos haplóides, juntam-se,
formando um núcleo único, diplóide. Esse fenômeno, etapa final da fecundação,
recebe o nome de anfimixia. O
material genético do espermatozoide (pró-núcleo masculino) e o do óvulo
(pró-núcleo feminino) funde-se e preparam-se para a primeira clivagem, agora,
denominada célula ovo ou
zigoto (fig. 5).
Fig. 5 – Diagrama da fecundação: Nota-se o
segundo glóbulo polar, fruto da meiose que estava estacionada e os pró-núcleos
feminino e masculino. Fusão dos pró-núcleos.
A
definição do sexo do novo ser, acontece durante a fusão dos núcleos. Tanto o
núcleo do óvulo como o núcleo do espermatozoide carrega no seu interior 23
cromossomos. Da fusão dos dois núcleos resultam 46 cromossomos, dispostos em
pares. Mas o último par é que irá definir o sexo do embrião: se for XX será uma
menina; se for XY, um menino. O núcleo do óvulo é sempre portador de cromossomos
X. Portanto, quem determina o sexo é o núcleo do espermatozoide.
A
entrada de um único espermatozoide no ovócito constitui a monospermia (é o que normalmente acontece).
Quando há a entrada de mais de um espermatozoide, temos a polispermia, que não leva a nada, pois somente
o núcleo de um deles vai fundir-se com o óvulo. Portanto, a polispermia nada
tem a ver com a formação de gêmeos. Normalmente, ocorre a monospermia, devido à reação zonal que ocorrem no óvulo logo após a
entrada do primeiro espermatozoide, este último perde líquido dos seus grãos
submembranosos de tal sorte que toda a célula diminui ligeiramente de volume.
Isso implica que a membrana vitelina (membrana plasmática) se afaste da zona
pelúcida, e surge um espaço chamado perivitelino, que passa a funcionar como
uma barreira para a entrada de novos espermatozoides.